Biotecnologia para a cana-de-açúcar é foco de empresa-filha da Unicamp

Biotecnologia para a cana-de-açúcar é foco de empresa-filha da Unicamp

Por Karen Canto

Resistência a insetos-pragas e herbicidas são propriedades interessantes para qualquer cultivo comercial. Quando essas características se combinam numa nova variedade de cana-de-açúcar, cultura da qual são produzidos o açúcar, energia elétrica e o etanol, produtos essenciais para a economia brasileira, essas propriedades tornam-se ainda mais relevantes. Esse é um dos produtos da PangeiaBiotech, empresa-filha da Unicamp graduada pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). Atuando no suporte à pesquisa na área de biotecnologia de plantas, a empresa, em parceria com a Embrapa Agroenergia, vem desenvolvendo variedades de cana competitivas no mercado: Trata-se das variedades BtRR, geneticamente modificadas, que aliam dois modos de ação distintos.

A tecnologia consiste em adicionar novos genes de resistência que, nesse caso, conferem à planta resistência à “broca da cana”, principal praga da cana-de-açúcar e ao mesmo tempo resistência ao glifosato, o herbicida comercial mais utilizado no controle de ervas daninhas no mundo. Segundo Paulo De Lucca, sócio fundador da PangeiaBiotech, essa dupla transgenia já existia em outras culturas importantes como milho e soja: 

“Já existem milho e soja transgênicos no mercado há mais de 20 anos, agora, a PangeiaBiotech está trazendo essa biotecnologia para a cana-de-açúcar, uma cultura essencialmente brasileira e de extrema importância para nossa economia”, justifica De Lucca sobre a tecnologia.

De Lucca explica que se comparado a outras culturas, o cultivo da cana, ainda hoje, é feito de forma mais convencional, por isso modernizar esse cultivo representa não apenas redução de custos, mas também menor impacto ambiental.

Usando o cultivo tradicional do milho como exemplo, De Lucca chama atenção para a questão ambiental explicando que era necessária uma grande quantidade de defensivos agrícolas para o controle de pragas, o que acabava sendo letal para outros organismos:

“Hoje, com o milho transgênico, é possível encontrar abelhas e minhocas nas plantações, pois a modificação genética confere resistência específica a insetos-pragas, mas é inócua a outros organismos benéficos. O mesmo já ocorre para soja, algodão, canola entre outras culturas. Do ponto de vista ambiental, é muito importante que essa tecnologia seja também implementada para a cana-de-açúcar.”, detalha o empreendedor sobre a importância do uso da biotecnologia no cultivo da cana.

Outro benefício da tecnologia é que as novas variedades de cana-de-açúcar permitirão ainda um aumento da biomassa empregada na produção de biocombustíveis, incrementando assim a produção de etanol de primeira e segunda geração. 

Os genes selecionados para a produção da nova variedade de cana-de açúcar são genes livres para operar, do inglês freedom to operate (FTO), cujo certificado foi obtido em 2019. Na prática, isso significa que não há impedimento para a exploração comercial dessas variedades. A PangeiaBiotech e a Embrapa Agroenergia estão agora em busca de parcerias estratégicas no setor produtivo para alçar a nova variedade de cana ao mercado.

 

Da incubação ao convênio de P&D com a Unicamp

Concebida inicialmente para prestação de serviços, a PangeiaBiotech iniciou sua trajetória com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e do programa de incubação da Incamp entre 2016 a 2019: “Com o financiamento da FAPESP, a incubação da Incamp e um local para trabalhar, nós tínhamos tudo o que precisávamos para crescer”, relembra  De Lucca. 

Além disso, o empresário ressalta a importância da incubação para o desenvolvimento de um perfil empreendedor: “O que sabemos hoje sobre empreendedorismo, aprendemos com a incubação. Eu era extremamente acadêmico e a Incamp, junto à Inova Unicamp, me tornaram um empreendedor e me apresentaram ferramentas valiosas para empreender”.

Com os treinamentos e mentorias da Incamp e as parcerias que surgiram, os sócios decidiram, além de prestar serviço, desenvolver produtos próprios: variedades de cana competitivas que reúnam as melhores propriedades. Da parceria com a Embrapa Agroenergia surgiu o desenvolvimento dessas novas variedades de cana-de-açúcar.

Com relação à pesquisa, a startup mantém parcerias com a Unicamp através de convênios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), no qual a empresa oferece prestação de serviços a pesquisadores da Universidade e pode utilizar um dos laboratórios do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp para a pesquisa. Segundo De Lucca, “o ambiente acadêmico é muito rico pois permite a interação da empresa com pesquisadores e alunos”. 

Atualmente a empresa vem se consolidando como uma plant transformation facility, ou seja, empresas que não tem um setor voltado à transformação genética de plantas, podem contar com o suporte e a infraestrutura da PangeiaBiotech. Além da cana, a empresa realiza transformação genética de tabaco, tomate, milho e soja e tem infraestrutura para abrir seu portfólio para outras culturas, de acordo com interesse e necessidade de seus clientes. 

* Este caso de sucesso foi submetido na chamada de empresas-filhas do agronegócio, realizada em parceria do grupo Unicamp Ventures e Agência de Inovação da Unicamp.

 

Karen Canto é graduada e mestre em química pela UFRGS, doutora em Ciências pela Unicamp, aluna do curso de especialização em jornalismo científico Labjor/Unicamp e bolsista Mídia Ciência (Fapesp).